terça-feira, 2 de junho de 2009

O meu colégio

O meu colégio festejou 50 anos este Sábado. Foi naquela grande casa que passei toda a infância e parte da adolescência. Tinha de estar naquela festa. O sol derretia-se sobre as mesas redondas do almoço.
Em gincana, eu e a minha amiga Maria deambulávamos pelo nosso recreio, que nos parecia enorme aos 7 anos de idade, e fixávamos as caras naquele emaranhado de gerações: encontrámos "as da turma C!" com as mesmas expressões que lhes conhecíamos. Nós éramos da turma A, mas reencontrámo-nos como amigas.
Havia as cinquentonas, algumas já pesadas, que se agarravam de olhos humedecidos às suas velhas professoras. Gostei de ver tantos sorrisos e tanta emoção. Também a senti. Logo que entrei e me dei conta de que aqueles corredores intermináveis e de que aqueles tectos altos eram afinal tão menos intermináveis e altos como os tinha julgado. Lá estavam os azulejos cheios de flores de corolas amarelas e de animais azuis e brancos que nos serviam de jogo nos recreios, a ver quem encontrava primeiro o par e a lambuzarmos as paredes com as nossas manitas.
Havia peregrinações às tomadas eléctricas nos corredores para ouvirmos alegremente cassetes de Onda Choc, Michael Jackson ou Madonna.
Havia "o estudo", esse lugar de silêncios impostos por uma freira vigilante, que cheirava a borrachas verdes esfareladas e a lápis de cera. Lembro-me da voz no altifalante que dizia o meu nome e do frenesim com que se arrumava a mala.
Encontrei algumas amigas para a vida: como a Maria, que partilhou comigo, no final de um ano, o que restava do chocolate em pó que ela levava para adoçar o leite dos lanches. Levar chocolate era do outro mundo. Eu bebia o meu com açúcar, nem sei como, e consolava-me com pão barrado com margarina Planta, o lanche típico do meu colégio; como a Rita, que nos animava nos recreios com a banda-desenhada que ela fazia, em vários episódios, e onde a heroína era a Barbie. E tudo tão bem escrito e tão bem desenhado, pintado com lápis de cor no caderno escolar. Eu era a teatreira. Nas festas, vestia-me de pastora ou de anjo e lá declamava as cantigas de amigo de D. Dinis ou tiradas de Gil Vicente.
Já crescida, via-me agora no centro do recreio a procurar as minhas professoras: a originalíssima professora de História, que nos falava de tudo, com paixão e sem método, enquanto pintava os lábios. Foi uma das melhores professoras que conheci, de uma cultura e entusiasmo inesgotáveis; a professora de ginástica, que nos ameaçava com "sopapos", de cabelos brancos encaracolados e de olho azul chispante, como sempre a conheci; a professora de Inglês, que me parecia altíssima e que levava para as aulas recortes e curiosidades inglesas que nos encantavam. Se nos portávamos mal, guardava esses tesouros no saco, com um amuo. E lá estavam elas, iguais, a receberem abraços sucessivos das raparigas que lhes passaram pelas mãos ao longo de tantos anos.
São tantas as memórias que tenho do meu colégio. É bom saber que aquela casa me habita.

1 comentário:

Irreligious disse...

:)

"manitas"

Mas bocê ainda tem manitas pequenitas... :)