sábado, 7 de março de 2009

Knockout



Gosto de levar murros no estômago quando o assunto é arte. “The Wrestler” deixou-me de rastos, com uma valente hemorragia interna. Estamos ali por causa do Mickey Rourke, que naquele filme dá, de forma soberba, o couro e o cabelo (um longo e hipnótico louro platinado). Darren Aronosfky parece que goza connosco. Queremos logo ver a cara do Rourke e ele não deixa: nos primeiros planos, só o vemos de costas ou na penumbra. Quando finalmente encaramos “The Ram”, cada plano é penoso: vemos-lhe a cara intumescida, as mãos papudas de gigante, os olhos mortiços, o tronco colossal e tudo aquilo incomoda e fascina. Não se escapa à analogia do lutador com Jesus supliciado (põem-nos isso à frente dos olhos) e encolhemo-nos na cadeira perante o sofrimento deste Cristo “melgibsoniano”, não pregado, mas literalmente agrafado às mãos de um wrestler judeu.
Adoro o grão deste filme, a sua verdade e violência, o facto de sentirmos que aquele actor “está mesmo lá”, como diz a Go-Go-dancer. Aliás, o wrestler e a dançarina de clube de strip jogam bem. Cada um veste (ou despe) um fato. A exibição e o artifício fazem parte do métier, mas se para ela a vida está lá fora, para ele o ringue é a vida que vale a pena. A cena final é magistral. Fiquei KO.






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